A toalha da mesa do seu noivado, você fazia questão de me contar. Meses bordando o que hoje considero uma relíquia: uma sobrevivente a tantas relações instáveis, a tantas mudanças, a tantos renascer após abusos.
Agora repousa intocada no fundo de um na gaveta: o lembrete visível do quanto éramos diferentes.
Hoje me pergunto quais tolices me fizeram fazer tanta questão de ser diferente de você: havia força em sua fragilidade, resiliência em sua fé. Que o amanhã sempre haveria de ser melhor, que as pessoas haviam de mudar, que o amor valia a pena se a pessoa se martirizasse por ele.
Penso que se tivesse algum talento parecido com o seu, talvez tivesse sido mais fácil de se amar.
Mas era imperita com agulhas e linhas, sórdida em humor e ácida em falas: te afastava para provar meus pontos.
Hoje beijei solitária os bordados da toalha de linha, que bordastes a tantos anos, colocando fé, amor e esperança linha a linha.
O retrato da sua persistência e talento, enquanto sonhava com amores e os futuros filhos. Uma vida feliz, quem sabe.
Por fim, estavas aprendendo a bordar toalhas de rosto, com fita traçada. Mas está já é o retrato de sua impaciência, de quem viveu a vida dos sonhos e os corres reais, de quem caiu muito com a cara no chão por acreditar demais em quem não devia.
Também a guardei, entrelaçada com a de linha, como um lembrete: o utópico nos faz sonhar, mas para o corre real, a impaciência do "antes feito que perfeito" é a justa medida.
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